domingo, 21 de setembro de 2008

O grande roubo

Fábio comemorava com seu amigo e colega Wagner a aprovação de ambos em uma disciplina na faculdade. De fato eram bem amigos, ao fim do semestre os dois obtiveram o mesmo 6,7 como grau final. Embora sendo uma nota um tanto modesta, foi comemorada com algumas garrafas da melhor cerveja disponível no bar.

Especialmente para Fábio, estava chegando o fim de um longo semestre, marcado, principalmente, por uma história de um romance proibido. Envolvera-se com Laura, uma mulher comprometida, por quem julgava estar apaixonado.

Quando voltava pra casa com Wagner, ao passar em frente a outro bar, encontram o amigo Carlos, junto de mais alguns desconhecidos. Decidem então se juntar à turma, e logo tem início um animado "Jogo da Verdade". Foi aí que Fábio notou a presença de Fernanda. Ela fora apresentada a ele apenas como "Fê", de modo que despertou-lhe a atenção o fato de chamá-la pelo apelido já no primeiro contato. O Fábio nunca chama ninguém por apelido. Chamou-lhe a atenção também o fato de serem os mais comedidos nas perguntas, e a essa altura já havia esquecido seu amigo Wagner, que despedia-se, indo sozinho pra casa. Alguns minutos depois foram todos embora, cada um pro seu lado, exceto Fábio e Carlos, que tinham o mesmo rumo.

Confidenciou ao amigo:
- Me chamou muito a atenção aquela tua amiga, a Fê. Que guria linda!

- Ela parece aquelas falsas-magras, como a Camila. Bem gostosinhas. – respondeu Carlos – Deve ser muito boa de cama. – completou.

E assim foram embora.

Na manhã seguinte, em frente a seu computador, Fábio resolve verificar seu Orkut. Um hábito de toda manhã, já que tinha esse período livre. Fica surpreso ao se deparar com um recado de Fernanda.

"Te achei. Vamos ser amigos?", dizia.

"Lógico!!!", respondeu imediatamente.

Trocaram ainda dois ou três recados, e decidiram que era melhor conversarem pelo programa de mensagens instantâneas, com mais agilidade e privacidade. E põe privacidade nisso. Ali decidiram fazer seu "Jogo da Verdade" particular, esquecendo que conheciam-se há menos de 24 horas. Finalizaram a conversa porque ela tinha que ir almoçar, e ele tinha que ir trabalhar. Conversaram novamente à tarde e, do nada, ela soltou uma demonstração de carinho, bem à sua maneira, é verdade. "Tu é muito a fudê", disse ela.

As conversas continuaram com uma boa freqüência: de manhã, de tarde, de noite... No segundo dia trocaram telefones e a relação só parecia melhorar. Muito disse se devia as coincidências que os cercavam. Moravam na mesma cidade, estudavam na mesma universidade, tinham gostos parecidos, pareciam ter sido tomados instantaneamente por uma afinidade mútua, e seus compromissos. O de Fábio com Laura e o de Fernanda com um rapaz chamado, pasmem, Fábio. E estes dois, o nosso Fábio e o Fábio da Fê, tinham ainda outras tantas coisas em comum...

Os dias seguiram, e com eles a amizade dos dois. Fábio contara à Laura que havia arrumado uma boa amiga, e com isso Laura encheu-se de ciúmes, talvez por pressentir algo nas palavras de Fábio. De fato ele havia mudado seu jeito com ela. Antes era mais carinhoso, atencioso, e Laura ligou os fatos, mas ainda assim preferiu não externar sua desconfiança. Enquanto isso, em poucos dias, a relação dele com Fernanda parece ter sido freada por algum motivo, o que intrigou Fábio. A explicação veio nas palavras de Carlos: "Tu mexeu com ela. Bagunçou a cabeça da guria." disse ele. E completou: "Tu sabe que tem qualidades suficientes pra fazer isso com as gurias. Agora te aquieta, tudo vai voltar ao normal."

Lógico que Fábio não se acalmou. Nunca foi de se acalmar. Pior que isso: nunca foi de seguir conselhos. Mas de qualquer modo as palavras de Carlos acabaram se cumprindo, tudo voltou próximo ao normal (próximo porque as aulas recomeçaram e a vida voltou a ser corrida pra ambos), e Fernanda convidou Fábio para uma festa. Ele, por algum motivo, agradeceu e recusou o convite. Não amoleceu nem quando ela falou que gostaria muito de vê-lo por lá. Por fim, ele não foi mesmo à tal festa, bem como Fernanda também acabou não indo, até agora não se sabe porquê.

O relacionamento com Laura não ia lá essas coisas quando Fábio se aproveitou de uma brecha deixada por ela e pôs fim ao romance. Silenciosamente um novo objetivo de vida havia sido traçado por sua mente capciosa: tratava-se de um roubo. Isso mesmo. Inconscientemente Fábio começa a tramar um furto deveras audacioso, o que se configurou como um grande desafio pra ele. Já havia cometido alguns delitos antes, pegava coisas emprestadas sem pedir, depois devolvia ao seu dono. Havia sido assim com Laura.

Semanas depois, já querendo executar logo seu plano, convidou Fernanda pra sair. Um show de um artista admirado por ambos. Pra ele seria a oportunidade perfeita de colocarem a conversa em dia, de estar junto com ela por algumas horas, e de ouvir uma boa música também. Seria. Chegando ao local do show encontraram um amigo dele, o Diego, que é um cara bem bacana e assim assistiram ao show juntos. Os três.

Bem, a três não haveria conversa. Apesar de ter a atenção de Fernanda exclusivamente pra si durante o show, não se sentiu à vontade para abandonar Diego. Essa era uma virtude que às vezes o atrapalhava: nunca abandona os amigos.

Ah sim, o crime. Fábio ainda não decidiu se valia a pena cometê-lo. Descobriu que não é bom em grandes roubos. É mestre em pegar emprestado e devolver depois, e também em trabalhar duro até ter o que deseja à sua disposição. Tem resistido ao desejo de tentar executar o roubo de sua vida, mesmo tendo contato quase diário com o objeto desejado.

E ainda descobriu que, além do nome, tem uma nova coincidência com o namorado de Fernanda.